Friday, April 9, 2010

Uma introdução

Para quem ainda não sabe, Nina é a minha gata com quem partilho a vida há 16 anos. Relação próxima, unha com carne, somos família, uma irmã, uma amiga, as definições que quisermos, quem já teve ou tem animais, quem os ama, sabe do que falo.

Neste ano o estado de saúde dela agravou-se consideravelmente. Cansaço, magreza, ossos e corpo a falhar, por muito que ainda tenha aquele olhar de quem gosta de nós, de quem quer estar connosco nos bons e maus momentos. Mesmo assim, quem me conhece sabe que pareço ter uma preferência para o sofrimento interior, de guardar, não demonstrar as coisas para fora no que toca ao meio físico, uma mistura entre respeito e algo que nem sei. Por vezes, somos apenas como somos e não existe mais explicação possível de que um cliché ou lugar comum como esse.
Parece que neste acaso, ou neste momento, isso mudou. Talvez por necessidade pessoal, por necessidade de ventilar, por homenagem, não sei, as minhas atenções estão ainda mais viradas para ela e decidi seguir mais uma vez o que sinto e abrir este blogue, um acompanhamento destes dias, uma espécie de diário de uma luta contra a idade e de tudo o que isso pode acarretar.

Dar-lhe mimos, limpar-lhe o rabo porque já não consegue limpar-se ou ter muita noção do que faz nesse sentido, o chão, as cadeiras, quem já cuidou de uma pessoa idosa poderá entender e encontrar empatias nestas e outras histórias e situações, porque acaba por ser isso o que se passa. O coração parte-se-nos por dentro.

Ontem cheguei a casa e como que gelei por dentro ao vê-la virada ao contrário do lado das colchas da minha cama, cabeça pendurada, uma semelhança com a imagem de Jesus na cruz por muito que eu não seja dado a religiões, mas fica a comparação. Não sei o que se passou, talvez tenha caído ao tentar subir ou descer da cama (tem acontecido constantemente, as quedas sempre que tenta subir para algo, patas de trás em dificuldade), ou talvez tenha sido uma espécie de trombose, ao vê-la de seguida, quando peguei nela, sem reacção, membros a falharem, ao notar tanto nesse dia como hoje pela manhã, que fez xixi no chão, que tenha ocorrido um potencial choque e trauma na noite anterior. Gela-se-me o coração, tenho ainda menos paciência para as tretas que me parecem rodear tantas vezes e para pessoas que só pensam nelas próprias.

4 comments:

  1. Allô :(

    Acredita que também gelei ao ler as tuas palavras. Tenho um nó na garganta. Doce gatita...

    Aceita o meu carinho e ajuda no que fôr possível.
    Será que não devias considerar uma ida ao veterinário? Eu sei que a ideia de abreviar o fim dos dias dela é uma decisão terrível e que custa bastante. Mas todos temos um começo e um fim. Se sentes que ela chegou ao fim, não há melhoras a esperar e está a sofrer, perdoa-me se a situação não fôr essa, não seria melhor considerar um fim com alguma serenidade e alívio?

    Um beijo e um carinho muito especial para a Nina.

    Coragem! Seja qual for a tua decisão.

    Ps: Posso dar-te o contacto da minha Vet se quiseres ligar para ela avaliar a situação da Nina, ela é excepcional. Manda-me um mail que eu dou-te o nr.
    §

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  2. pela primeira vez pareces-me pertencente à condição humana ; fazes coisas muito tangentes à perfeição e com demasiada frequência.
    Claro que podes "moderar" o que vou escrever a seguir - eu fiz o mesmo continuadas vezes .
    Uma vez amamentei uma gata com uma seringa - iam-lhe fazer mal ,muito mal confia .
    Chamei-lhe nico,e deixei-a a fazer companhia à minha mãe ;ambas precisavam.

    O que te tenho para dizer sem cuidado paliativo de espécie alguma , os últimos dias não são nada comparado com o último estertor ; é uma melopeia que te faz sangrar os tímpanos pelo resto da vida .

    Em casa da minha mãe existem demasiados lugares que ainda me pertencem , a nico escolheu expirar o último dos fôlegos debaixo da minha cama de quando respondia só por mim.

    Não há perfeição na vida e tu sabes tão bem quanto eu ; mas há alturas que assim parece exalta-se algo em nós - 7 fôlegos eu sei lá.

    por cuidar de um amigo numa outra vida , na minha existência de agora - de determinada forma ,com fé « digo eu » - as pessoas dizem -
    - me que eu devia ser agente de geriatria , e tu também digo - te eu.

    coragem e memória é tudo o que vais precisar.
    com moderação claro ,ninguém é perfeito.

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  3. Thx a ambos pelas palavras.

    Sofia, ainda não sei se é esse o caso, já éramos para ir com ela agora ao veterinário antes disto. Vou ao veterinário que fomos antes, em Barcarena, da associação, gostei muito dele das últimas vezes. Depois eu digo o que ele me disser e como correu.

    grandeportaasuldegaba, não vejo motivos para 'moderar-te' o comentário ou palavras e sei o que dizes quando chega certo momento, familiaridades, até como partilhaste essas vidas, já que tive outros casos e animais antes, já para não falarmos de pessoas.

    Por muito que nos preparemos, quando chega a hora uma parte de ti morre. Soa cliché, mas acaba por ser a verdade e associas aos locais, aos momentos, a memórias, é algo que fica sempre aqui, por muito que o tentemos esconder cá dentro.

    Obrigado mais uma vez pelo apoio e palavras.

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  4. novo figurino , gostei.
    um novo cenário para nos partilhar um som do quotidiano

    ;)

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