Monday, April 26, 2010

XIV

Fez recentemente dois anos que tirei a carta de condução, um pouco tardiamente diga-se, mas foi quando senti que devia de ser e lembrei-me disso nestes dias regularmente, à medida que ia sentindo um certo prazer em conduzir nestes dias, uma certa sensação de liberdade estranha e de pensamentos que se notam estar longe daqui.

A noite de música efectuada recentemente acabou por correr bem, uma espécie de reunião entre amigos próximos que já não se viam há algum tempo, misturado com o convívio entre conhecimentos recentes. Foi bom, bonito até, mas penso que era notório o meu olhar e sorriso meio diferentes, com a vestimenta preta de gravata e camisa a não ajudar muito. Ainda estou em processo de digerir estes eventos, continuo a ter imagens e a dar mais voltas na cama do que já era costume. Assustadoramente, nestes dias deparei-me também com a imagem de duas gatas pequenas para adopção impossivelmente queridas e com várias semelhanças físicas com a Nina, sendo difícil olhar para elas como não o fazer.

Noutros desenvolvimentos, noto estar totalmente desmotivado com o curso, interesse a chegar ao zero, mas a parte das noites de música aponta para o oposto, com as mais diversas datas a surgirem e comigo a tentar conseguir ainda mais, uma decisão que já tardava, que me moía a cabeça e que ando em processo de tentar ir mais além após o que aconteceu. Ao mesmo tempo, as palavras são também cada vez mais importantes e fundem-se com os sons a todos os instantes, milhentas janelas por onde podemos espreitar cá para dentro.

Thursday, April 22, 2010

XIII

Tenho uma dor no peito enorme, custa-me ainda mais a dormir e a trovoada desta noite fez-me ponderar se a mesma não estaria relacionada com a minha energia do momento. As batalhas internas continuam por estes lados, o que vai provocando um libertar de forças das mais variadas formas, entre elas, através da escrita, como vai dando para ver a cada dia, quem sabe, ainda mais do que anteriormente.

Hoje irei fazer a primeira noite de música pós Nina e este ‘pós’ soa-me estranho e pouco verdadeiro, tendo em conta que ela continua presente e irá continuar ao longo do tempo. Como já era norma, não faço ideia do que poderá acontecer, mas temos uma noite especial em vista, tendo em conta a temática e todos estes sentimentos e sensações a lutarem por um pouco de espaço.

Tuesday, April 20, 2010

XII

Está demasiado silêncio nesta casa.

Saturday, April 17, 2010

XI

Momentos, os dias são preenchidos com vários e esta Sexta que passou, uma semana depois, teve alguns que fui retendo. Um colega meu perguntar-me se queria ficar com uma gatinha bebé, curiosamente branca com uma mancha preta na cabeça segundo ele, foi apenas um deles. Agradeci o gesto, mas ainda é muito cedo, muita coisa à flor da pele, além de que não seria bom para um animal sentir-me com uma energia diferente da habitual, ou que estava a ter um papel de substituição. É semelhante a quando temos uma relação com uma pessoa e uns tempos depois acabamos por até conseguir iniciar outras. Só quando nos sentimos preparados para isso, para amar essa outra pessoa, para iniciar outra etapa na nossa vida, é que o fazemos, podendo acontecer com regularidade, ou nunca mais. Com um animal, é exactamente o mesmo.

Um perfeito exemplo de como ainda estamos a digerir isto passou-se na altura de ir ao talho. Pedimos x e a pessoa pergunta-nos se é para levar também certa quantidade de carne picada. Responde-se que não, apesar do empregado estranhar, porque sim, era o que pedíamos e levávamos para a Nina, acontecendo episódios destes diariamente.

Noutros campos, retive também o comentário de estarem a sentir-me mais animado, positivo e criativo, o que é verdade, sinto-o no peito e neste turbilhão interior, assim como o sinto no que vou criando, seja na escrita ou ligado à música por exemplo. Tendo já gravado a emissão do programa de rádio que colaboro, a qual é transmitida às 2ª, dou por mim a pensar nisto e como o resultado final tem uma energia altamente positiva, continuando o tal percurso, por muito que isso me pudesse ter surpreendido inicialmente. Gosto desta faceta confesso, muito porque estou a partilhar com as pessoas a mesma e algo de positivo, de maneira natural, acabando por ser uma outra maneira de lidar com o que aconteceu.

Existe qualquer coisa de maior fragilidade por aqui, que se guarda cá dentro, mas ao mesmo tempo, estou a sentir uma força ainda maior, quem sabe chegue ‘lá’ um dia destes...

Thursday, April 15, 2010

X

“O que estás aqui a fazer?”

Na janela, a ver o dia a passar num final de tarde, ouço essa pergunta dirigida a mim e penso que não só é uma boa questão, como a mesma pode ter várias ramificações, por muito que tenha a ver com uma preocupação associada à Nina. Não, não me vou atirar da janela, respondo, apenas estou aqui, não necessariamente a olhar para algo sequer, apenas aqui.

Hoje decidi que vou sair um pouco após o jantar, espairecer, sair das paredes, mas confesso que ganhei um gosto especial ao passar do tempo na janela, sem a noção do mesmo, sem pressões, sem preocupações, isolado de pensamentos.

Tuesday, April 13, 2010

IX

E com as palavras... as nuvens. Brincando um pouco com as coincidências, a inspiração parece ter voltado hoje no que toca a textos, os primeiros após tudo isto, assim como a chuva. Curiosamente, a energia da escrita mostrou-se positiva, com luz, numa continuidade que se previa, por muito que sinta alguns problemas em lidar com demasiadas emoções ao mesmo tempo e com o pulsar que sinto no peito.

Uma maneira de lidarmos com certos acontecimentos é mantermo-nos activos, fazer algo, como tal, além do resto, decidi persistir na vertente das noites de música, aparecendo algumas datas novas depois de algumas conversas, numa tentativa de oferecer a cada mês algo a quem o desejar, assim como um critério nos espaços, com um foco em certos ambientes ou que gostem deste percurso que se vai fazendo, ou simplesmente que estejam numa de fazer alguma experiência.

Para a semana será a primeira noite após isto (pareço ter alguma dificuldade em dar nomes ultimamente), estou para ver o que acontece. Em paralelo, este blogue parece ser realmente um blogue em comparação com o outro, diário de bordo, relatos de como vão passando os dias agora sem a Nina, hoje, no dia mundial do beijo...

Monday, April 12, 2010

VIII

Primeiro dia de trabalho/curso após o fim-de-semana que passou. A motivação continua a ser zero, também pelos tais métodos de ensino e estrutura que deixam a desejar. Em vários casos, acabamos por aprender mais se tivermos em casa a treinar tutoriais por nós próprios, o que não surpreende, percebendo-se a má fama que estas coisas vão tendo por isto mesmo.

Aprende-se umas bases e com sorte descobre-se algo que desconhecíamos e passamos a gostar, mas no fundo, estamos muito por nossa conta e fica apenas a fraca motivação de obtermos os diplomas e, consequentemente, mudarmos os nossos valores estatísticos para serem usados posteriormente em debates e campanhas de teor político para tapar os olhos ao povo e aos verdadeiros problemas. Ou onde os mesmos estão.

Tendo em conta isto e o que aconteceu, sair de casa ainda custa mais, mas algo aqui está em recuperação, vou sentindo-o, levando-me a continuar. O lado criativo e ideias continuarem a florescer na cabeça também ajuda. Penso que alguns destes aspectos já se vão notando nos podcasts/cds/emissões que fiz e partilhei nos últimos dias. Ter encontrado um outro gosto, quem sabe renovado, na absorção de séries de TV ou em obras anime, das quais as últimas andava mais desligado, parece-me que também poderá vir a dar os seus frutos.

Certas imagens continuam a atormentar-me um pouco, terei de lidar com isso até ao resto dos meus dias parece-me, lições de vida. Ao mesmo tempo, a coragem exigida para certas decisões e últimos dias deram-me mais um reforço na parte de mim ligada à auto-confiança, que já era forte antes disto diga-se e não, não estou a ser irónico.

Mais sério talvez, brilho diferente no olhar, a descoberto, sem medo de fixar e penetrar qualquer campo de órbita, menos acessível, vou abraçando também certas mudanças estéticas que foram acontecendo recentemente num processo natural, muito associado a fases da nossa vivência, em que certas coisas a passam a fazer sentido, ou deixam de o fazer.

Reajustamentos, mais alguns...

Saturday, April 10, 2010

VII

Alguns sinais de vida, ela ainda existe, mas uma diferença fundamental nos olhos. Não têm luz, desapareceu, deu para observá-lo hoje novamente no espelho do elevador, impossível não se notar, impossível não acontecer.

Continuo a ter apoios e a encontrar conforto nas palavras, mensagens e telefonemas diários de pessoas amigas, do meu pai, que me telefona regularmente para me tentar dar força, esperança. A minha mãe continua a não digerir muito bem também o que aconteceu, tento dar-lhe um pouco de força e ela a mim, várias vezes no silêncio, sem precisarmos de falar. Tenho imagens recorrentes dos últimos momentos, dói como tudo, decisões que temos de acarretar para sempre, apertos no estômago, uma pessoa nunca mais é a mesma.

Não foram nada pacíficos estes dias, este ano até, mas principalmente estes finais de luta, falhas graduais a cada dia, os últimos dois então foram de uma brutalidade que me dilacerou por dentro e não dá para esquece-los.

Fotos por revelar, ainda não consigo olhar bem para elas, mais tarde, talvez.

VI

A tentar ouvir música, pela primeira vez nestes dois dias. Não conseguia ouvir nada, mesmo com o silêncio a incomodar-me e ainda não sei se o consigo fazer. Sensações estranhas.

V

Sem dormir. Eu já não dormia muito bem de qualquer modo, ou sequer, como lidar com isto? Como lidar com a confusão e memórias de cada vez que meto a chave à porta? Ou com o que sinto em qualquer parede das divisões desta casa?

Como lidar com as imagens que me assaltam, de como a acompanhei no adormecer final, de como antes ela me deu um adeus, tanto em casa como depois na hora de partir? Como lidar com um vazio e buraco negro que parece querer engolir qualquer ponta de luz que ainda possa restar por aqui?

Um animal não é menos do que nós, não há drama aqui, não existem exageros no sentimento e afirmação, várias vezes ditas frontalmente, que um dos pilares centrais da minha existência e motivação era a Nina. Ainda há pouco se falava ao telefone como toda essa relação, impossível de descrever diga-se, decorreu nestas paredes, que era notória a química e amor incondicional de ambas as partes. Era uma amiga, sim, no verdadeiro sentido, que sabe do que fala, ela própria tendo convivido com ela uns anos. Acabamos aos soluços e a dizer que não dá para acreditar nisto, que aconteceu.

Como lidar com isto? Não se lida, vive-se, até o peito latejar, sem certezas se irá sobrar algo posteriormente, ou mesmo dúvidas se o posterior virá a existir algum dia. O que antes já fazia pouco sentido, agora ainda menos faz e mesmo o que até parecia fazer algum, parece ter deixado de o fazer. Como é que me posso deitar naquela cama, puxar a colcha para trás, sem ela?

fdx, como?

IV

O que é a amizade? Boa questão. O que acho que alguém podia melhorar no que penso ser uma pessoa que se considere minha amiga? Talvez seja outra boa questão.

Recuemos umas horas antes, ou uns dois dias, aos acontecimentos relacionados com a Nina, que dei conta aqui. Dia 9 de Abril, pelas 17:30, a minha fiel companheira de 16 anos partiu de vez, comigo ao lado dela até ao último momento, até o coração ter parado de vez, banhado em lágrimas.

Horas antes, as pessoas que sabiam que ia ao veterinário e parte do que se passava, mandaram-me mensagens, telefonaram, escreveram na internet, algumas que até nem conheço. Família, amigos e amigas, exs, desconhecidos(as), sem distinção, estavam ali para mim, tanto antes como depois. Ou melhor, grande parte delas. No entanto, algumas das pessoas que sabiam, que até podem colocar as questões do começo deste post e dizem que se importam, simplesmente não me disseram nada, não perguntaram como tinha corrido, se precisava de algo, nada. Limitaram-se a pedir mais uns favores ocasionais, a falar do sol e do bronze que apanharam, do umbigo ou simplesmente a falar mal de mim em público nesse preciso dia, numa falta de sensibilidade atroz em relação às pessoas, situação e animal.

O que é a amizade?

Boa questão, mas sei ver bem quem é meu amigo(a), as acções valem mais que mil palavras. Obrigado mais uma vez a quem tem dado força e apoio.

Friday, April 9, 2010

Nina 1994 - 2010

II

Mais um dia de estudo/trabalho com a sensação de estar a encher chouriços. Falta de coordenação, parte pedagógica que me deixa a desejar, nada é perfeito mas não quer dizer que certas coisas não pudessem ser melhoradas. Mais do que nunca, tenho a cabeça agora noutro lado e nem sei muito bem também como terei a energia necessária para sorrir no casamento que vou efectuar amanhã, sábado, ou para as 16h ou quase 24h de trabalho que isso envolve, mas sei que vou faze-lo no fim, porque há que sermos profissionais e não queremos desapontar quem confia em nós, ainda por cima num dos dias mais importantes das suas vidas, conceito que parece ser estranho para algumas pessoas.

Estamos em preparação para levar a Nina ao veterinário após o almoço, agora que cheguei novamente a casa. Demos-lhe uma lavagem com um pano quente, visto que também já raramente se lava. Devido a uma possível queda anterior (motivo primeiro para a levarmos lá antes do que aconteceu ontem), tem parte do lado esquerdo da face inchada e um dente partido também pelos vistos.

No entanto, mal cheguei a casa e ela me viu, é admirável como ainda demonstra aquela alegria e tentou logo subir-me para as pernas, à procura do meu colo, conforto e companhia, miando-me nesse sentido e com uma ternura que nos derrete. É uma criança ainda.

Uma introdução

Para quem ainda não sabe, Nina é a minha gata com quem partilho a vida há 16 anos. Relação próxima, unha com carne, somos família, uma irmã, uma amiga, as definições que quisermos, quem já teve ou tem animais, quem os ama, sabe do que falo.

Neste ano o estado de saúde dela agravou-se consideravelmente. Cansaço, magreza, ossos e corpo a falhar, por muito que ainda tenha aquele olhar de quem gosta de nós, de quem quer estar connosco nos bons e maus momentos. Mesmo assim, quem me conhece sabe que pareço ter uma preferência para o sofrimento interior, de guardar, não demonstrar as coisas para fora no que toca ao meio físico, uma mistura entre respeito e algo que nem sei. Por vezes, somos apenas como somos e não existe mais explicação possível de que um cliché ou lugar comum como esse.
Parece que neste acaso, ou neste momento, isso mudou. Talvez por necessidade pessoal, por necessidade de ventilar, por homenagem, não sei, as minhas atenções estão ainda mais viradas para ela e decidi seguir mais uma vez o que sinto e abrir este blogue, um acompanhamento destes dias, uma espécie de diário de uma luta contra a idade e de tudo o que isso pode acarretar.

Dar-lhe mimos, limpar-lhe o rabo porque já não consegue limpar-se ou ter muita noção do que faz nesse sentido, o chão, as cadeiras, quem já cuidou de uma pessoa idosa poderá entender e encontrar empatias nestas e outras histórias e situações, porque acaba por ser isso o que se passa. O coração parte-se-nos por dentro.

Ontem cheguei a casa e como que gelei por dentro ao vê-la virada ao contrário do lado das colchas da minha cama, cabeça pendurada, uma semelhança com a imagem de Jesus na cruz por muito que eu não seja dado a religiões, mas fica a comparação. Não sei o que se passou, talvez tenha caído ao tentar subir ou descer da cama (tem acontecido constantemente, as quedas sempre que tenta subir para algo, patas de trás em dificuldade), ou talvez tenha sido uma espécie de trombose, ao vê-la de seguida, quando peguei nela, sem reacção, membros a falharem, ao notar tanto nesse dia como hoje pela manhã, que fez xixi no chão, que tenha ocorrido um potencial choque e trauma na noite anterior. Gela-se-me o coração, tenho ainda menos paciência para as tretas que me parecem rodear tantas vezes e para pessoas que só pensam nelas próprias.